sábado, 20 de fevereiro de 2010

A ligação indireta de uma unidade exprime-se no fato de cada unidade combatente conservar a comunicação com qualquer outra unidade combatente que esteja em contato direto com ela - colocada, portanto, em qualquer uma das oito casas que tocam a sua. Uma linha de comunicações estará cortada sempre que uma unidade de combate inimiga for colocada em qualquer uma das suas casas, e durante todo o tempo que ela si mantiver.

DÚVIDA x DÁDIVA


É impossível saber se a câmera simplesmente registrou os acidentes ou se o fotógrafo conscientemente enquadrou e sublinhou; se ele viu isso como um índice de um estilo de vida ou como uma combinação quase abstrata de linhas e objetos.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

UNIDADE TRIPARTIDA


Composição inclui tudo que é composto de pedaços para obter uma unidade. Unidade chama-se, por exemplo, máquina, composta de tantos pedaços que, ao ser montada, pode produzir novas unidades. O homem é uma máquina que deve produzir novas unidades, e deve dar o impulso para que estas unidades se reproduzam favoravelmente.

PARO E DEVORO


Somos enganados pelo espaço 'vazio', em cujo limite são colocadas milhares de estrelas e sóis, dos quais a ciência quer se apoderar. E o universo está se dilatando, se multiplicando, igual à população, mas com a diferença de que esta tem de se limitar no espaço que existe. E com a fome que ela tem, de querer possuir massa, ela tem devorado até as ruínas dos séculos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

OBSERVO

O carnaval acabou. E finalmente choveu hoje, de madrugada. A chuva era necessária. Estava difícil dormir, tanto pelo calor boçalizante como pela leitura da notícia (quebrando meu jejum de mídia) da morte de uma menina de 9 anos no Aterro, violentada e estrangulada. Cada ponto na história se desdobrava em associações livres que eu não conseguia controlar naquele estado pré-hipnagógico. Todo o cenário em torno da notícia era lúgubre e desesperador, só que sem aura de um texto a la Charles Dickens, com seus cômodos escuros e mal-cheirosos, pátios miseráveis e toda a fauna de lugares míticos de Londres oitocentista como Limehouse, Shadwell e Bluegate Fields. Só que aqui a menina pedia dinheiro nas ruas da Lapa e morava com a mãe e irmãos num prédio invadido na rua do Riachuelo. Lembro-me do falecido Ricardo Rosas e a idéia de montar bibliotecas no interior desses prédios invadidos. Próximo ao cadáver foram encontrados um maço de cigarro e uma lata de cerveja. Detalhes nojentos. Já fiz muitas fotos naquele ponto do Aterro, é um dos meus lugares preferidos para observar (e tentar captar) a alma encantadora da baía. Aterro manchado de vermelho, justo perto do Mam (onde encontrei Kode9 e deixei meu livro com ele), na proximidade daqueles jardins serenos desenhados por Burle-Marx. De revolver as vísceras, como quando apareceu aquele corpo carbonizado na praça Paris, onde Pedro Nava se matou e outro cenário dos meus estudos fotográficos. As mesmas pessoas que agora gritam nomes de escolas de samba, na semana que vem estarão gritando GOL! - preferencialmente na hora em que seu patrão mandar. Antes de me entregar por completo ao mergulho nas águas de Oblivion, sou presenteado com a chuva: sei que ela limpa a terra - embora seja um elemento turbulento (vide imagens de São Paulo cada vez mais afogada em seus problemas: haverá futuro ou apenas a iminência de uma catástrofe ambiental?). Para o carnaval, havia programado ruminar uma pedrada, o estudo de Adorno sobre Kierkegaard, que carrega o sintomático subtítulo de "Construção do estético". Tudo iria bem se não houvesse trombado um outro livro no meio do caminho: "On some faraway beach", biografia de Brian Eno. Enquanto escrevo, ainda me sinto sob o impacto de uma imersão recente no Continente Eno. E enquanto lia a biografia, revisitava os dois primeiros discos do Roxy Music (campeões do "art rock" inglês de três décadas atrás) e todos os discos dos anos 70 e 80 que já habitam minha vida há tanto tempo mas precisavam ser ouvidos novamente e reconceituados. No meio do caminho, encontrei e reencontrei projetos nos quais Brian Eno se envolveu de uma maneira ou de outra. É o caso dos dois discos do Andy MacKay, responsável pelos sopros no Roxy Music. O mesmo vale para as parcerias com os alemães do Cluster, resultados de suas visitas ao pacato interior germânico. Ou "The pace setters", álbum da banda africana Edikanfo, que Eno gravou e produziu durante uma visita a Gana. Ou ainda "Remain in light", o disco mais poderoso dos Talking Heads, que contou com produção e direção artística de Eno. Também seu envolvimento com projetos mais anárquicos, como a "Portismouth Orchestra", orquestra composta por não-músicos e músicos de vanguarda que se uniam para apresentar versões próprias (e bastante particulares, sobretudo pelo perfil dos executantes) de composições famosas da música erudita ocidental. Eno é um continente. Continente Eno. Mas não é Eno quem ouço agora: comecei com "In a beautiful place", do Boards of Canada, e termino com "Snowflake in a hot world", do Mercury Rev. O carnaval acabou. Finalmente choveu.